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As férias de inverno terminaram e a frase mais ouvida no Calçadão, nas praças, nas livrarias, nos teatros e cinemas, nos corredores dos shoppings - Vó! Ô, vó! - também silenciou. Uma pena que as férias de meio de ano passem tão rápidas. Passei uma semana com minha neta Giovana. Nestes dias, tudo podia esperar e esperava, menos eu e ela. Aproveitar uma e a outra era essencial, prioridade absoluta. Ser vó é acrescentar ternura à responsabilidade. É eliminar a ansiedade das expectativas. É curtir cada momento com leveza, cumplicidade e alegria absolutas. Olhar de avó aquece, acalma, acolhe, transmite confiança. Vó! Ô, vó! É quase um mantra que a Giovana repete muitas vezes, somente para me ver sorrir e sentir o olhar direcionado a ela. É falar para ouvir com o coração. Amor de vó não compete. Amor de vó é seguro. Amor de vó sabe identificar o momento adequado e propício para transbordar e envolver.
Amor de vó é troca. A explicação, acredito ser o momento de vida. Em geral, quando somos pais, várias coisas nos absorvem e ocorrem ao mesmo tempo: consolidação profissional, estruturação da família, compromissos financeiros, aumento de responsabilidades, dentre outras. Ao ser avó tudo isso está formatado, consolidado - a carreira, a família, as aquisições. A pressa e a pressão são muito menores ou até inexistentes. Fatores essenciais para uma relação de menor cobrança e maior tranquilidade. Abraçar, beijar, externar os sentimentos e o amor encontram neste momento maior espaço. Se perde menos tempo com detalhes pequenos, menores. O olhar e o foco são direcionados ao essencial, às coisas simples, como disse Mario Quintana em um trecho de seus poemas:
"Tão bom viver dia a dia ...
A vida assim, jamais cansa
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu ..."
A sintonia entre avós e netos também se explica pela aproximação dos tempos. O amadurecer bem que poderia ser infantilecer. O momento é de ressignificar a vida. A medida que envelhecemos, nos aproximamos ainda mais do espírito das crianças. Voltamos a apreciar a simplicidade, a espontaneidade, a naturalidade, o descomplicar. Adultos dificultam tudo. São campeões na arte de complicar o simples, o óbvio. Adultos criam contornos que impedem a simbiose. Adultos gostam de construir muros em vez de caminhos. Ser avó por tudo isso é um privilégio que acrescenta ainda mais sentido à vida. Ao ler o poema de Maria Beatriz M. dos Anjos, "O laço e o abraço", concordo com a metáfora usada por ela para comparar os sentimentos que nos envolvem.
"Ah! Então é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livres as duas bandas do laço."
Inspirada pela comparação arrisco dizer que avós são como laços de fita - no enroscar de cada ponta prendem os netos em abraços até o próximo encontro, até as próximas férias.